18 de fev. de 2016

S&P rebaixa nota do Brasil e rating volta ao nível de dez anos atrás

O Estado de S. Paulo

Danielle Chaves, Ricardo Leopoldo, Álvaro Campos e Fernanda Guimarães
18/02/2016 – A agência de classificação de risco Standard & Poor’s voltou a rebaixar ontem (17) a nota de crédito do Brasil, de BB+ para BB. Isso significa que o País está agora dois degraus abaixo do grau de investimento – uma espécie de selo de bom pagador, que indica que determinada região é segura para os investidores. Além disso, a agência, que justificou o rebaixamento com um alerta de que os desafios econômicos e políticos do País ainda são consideráveis, manteve a perspectiva negativa para a nota, indicando que pode piorar o rating.
A S&P já havia retirado o grau de investimento do Brasil em setembro do ano passado. Em dezembro, foi a vez da agência Fitch seguir o mesmo caminho e colocar a nota do País no grau especulativo. Atualmente, apenas a Moody’s ainda mantém o Brasil como grau de investimento, mas a perda desse status é dada como questão de tempo.
Para Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, com o rebaixamento, o rating do País regrediu uma década – em fevereiro de 2006, a Standard & Poor’s elevou a nota do Brasil de BB- para BB, iniciando a escalada que culminou com o grau de investimento, em 2008. “O rebaixamento é muito ruim”, disse. “Com isso, fica mais urgente a necessidade de serem realizadas reformas estruturais, especialmente relacionadas à área fiscal.”
De acordo com a S&P, os riscos de execução para uma política fiscal corretiva permanecem altos no curto prazo no Brasil, depois de o governo não conseguir aprovação para algumas medidas orçamentárias no fim de 2015. Além disso, observou a agência, apesar dos planos do governo para reformas estruturais, o ambiente político conturbado limitará a viabilidade dessas reformas.
“É difícil ver o Brasil voltando a um crescimento positivo antes que as incertezas políticas diminuam”, disse a agência, em nota. “Quando isso acontecer, restaurar o equilíbrio macroeconômico e avançar em reformas microeconômicas serão cruciais para dar suporte ao investimento e ao crescimento.” A S&P diz também que a inflação é outro desafio para o País.
Na opinião de Miguel Daoud, consultor e sócio da Global Financial Advisor, a decisão da S&P de rebaixar o rating do Brasil reflete uma série de medidas que estão sendo propostas pelo governo e que só agravam a crise. Entre essas medidas está a possibilidade de flexibilizar a meta de superávit primário, criando uma “banda fiscal”. “Flexibilizar a meta de primário deixa entendido que não vai ter superávit este ano”, disse.
Para gestores de recursos ouvidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, o novo rebaixamento não deve provocar uma grande mudança no mercado, mas deve adiar ainda mais a retomada da confiança dos investidores, mantendo por mais tempo o perfil negativo dos ativos brasileiros.

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