5 de ago. de 2014

A Remuneração do Vendedor





A inauguração da loja da Apple, em fevereiro deste  ano no Shopping Village Mall no Rio de Janeiro, aponta para o inicio de um novo marco no varejo brasileiro, além de  revigorar o varejo, sendo um  estímulo a mais para o nosso consumidor, também traz novas regras no sistema de remuneração de  vendedores.
A grande pergunta é se  este modelo pode  ser adotado na maioria do segmento de lojas do varejo brasileiro. É inegável que nos últimos anos o varejo vive grandes  transformações. São vários os fatores que contribuem para a situação atual, como a chegada de filiais de grandes lojas de marcas mundiais; inclusão de novos consumidores; conscientização dos consumidores, que passaram a  ser  mais  exigentes em relação ao  atendimento por parte das  equipes de vendas.
O varejo não verá mais o tempo em que os produtos eram “empurrados” para o comprador,  a  era do produto sem serviços e benefícios agregados passou. Atualmente exige-se um vendedor qualificado, com conhecimento aprofundado em relação ao produto que comercializa, tornando este vendedor um verdadeiro consultor.
É neste cenário, que muitas lojas recém-chegadas no Brasil, estão mudando a forma de remunerar as suas equipes de vendas, deixando de pagar  comissões, e priorizando o pagamento fixo mensal. Sabe-se que na Apple não se  força venda, pelo contrário, é comum um vendedor ficar horas  assessorando um possível comprador, e  a venda nem sempre é realizada  naquele momento.
É comum afirmar que o pagamento por  comissões, tira a liberdade do vendedor e o pressiona em vender mais e mais, abrindo mão da qualidade  de informar o consumidor. O momento atual exige um vendedor que atenda aos anseios e necessidades do cliente, e não apenas vender, já sabemos que uma má venda realizada, compromete futuras vendas  e poderá acarretar prejuízos a longo prazo.
Embora a  estratégia da Apple seja estranha para o varejo brasileiro, é aconselhável ficar  atento pois esse quadro pode  ser  revertido, e tornar-se regra em curto prazo. Relembrando a entrada do McDonalds em 1980, mesmo sendo um mercado diferente, trouxeram um método novo de atendimento, e em pouco tempo todos estavam copiando. Temos que considerar que a Apple poderá servir de base para um novo modelo de  remuneração, para os vendedores no  varejo nacional, e não desconsiderando que a tecnologia também criou novas  experiências de compra, dispensando até o vendedor.
Porém, é importante atentar para os possíveis entraves com a tendência colocada em pratica, como a própria estrutura do nosso  varejo não facilita os pequenos lojistas, não têm condições de pagar  salários fixos satisfatórios, e por isso fazem uso das  comissões como complementação das rendas dos seus vendedores.
Temos que considerar  também as questões trabalhistas, principalmente em relação da flexibilização da mão de obra do varejo, é preciso avaliar os custos que irão incidir para o empregador. No Brasil atual, o modelo de pagamento fixo é mais indicado, por  exemplo, para lojas de departamentos, em que o colaborador exerce papel de garantir que a loja  esteja sempre organizada, para que o comprador possa se  servir sozinho.
As lojas da Apple com produtos exclusivos, assim como de outras lojas  conceituadas, que podem ser consideradas icônicas, a marca é muito forte e o papel do vendedor é ser um consultor, um facilitador que demonstra as linhas de produtos. Já para uma loja multimarcas, é quase impossível ter um cliente manuseando os produtos por horas, e contar com apoio dos vendedores, as marcas consideradas sinônimas em suas categorias já se vende, sem necessitar do vendedor.
Os vendedores brasileiros acostumados com pagamento de comissões sabem que ele cria maior pressão para alcançar resultados, mas é eficaz. Temos vantagens no sistema comissionado, mas não é possível defini-lo como modelo padrão no caso das redes de lojas, que trabalham com produtos parecidos como refrigeradores, televisores, onde a comissão é boa opção. É preciso definir clientela, perfil correto de cada tipo de colaborador e remuneração.
De um lado a remuneração por comissão pode estimular uma competição interna da  equipe de  vendedores nada saudável, no caso de um atendimento, onde se  empenha ao máximo, gasta tempo  e  energia e não concretiza a venda. Este colaborador não  receberá qualquer remuneração, resultando em desmotivação da  equipe e incentivando a busca somente por vendas fáceis.
A remuneração fixa em si, não possui pagamento proporcional ao resultado alcançado, dois vendedores com volume de vendas diferentes terão a mesma remuneração. Por  outro lado, o vendedor que ganha salário fixo não se  sente tão pressionado para fechar logo a venda, e poder dedicar-se mais tempo no atendimento ao cliente, permitindo alcançar a fidelização  e não realizar apenas a venda imediata.
Fica nossa sugestão: a  experiência do dirigente lojista, tem peso importante na definição da forma de remunerar os vendedores, como é importante que o empresário do segmento varejista, tome conhecimento das  tendências que  estão ganhando espaço no Brasil, além de selecionar a melhor opção para manter sua  equipe de vendas motivada.
  
Antonio Carlos Giuliani: professor e coordenador dos cursos de Mestrado Profissional e Doutorado em Administração e MBA em Marketing e Negociação. - UNIMEP.

E-mail: giuliani.marketing@uol.com.br

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